Desde o final do
século XIX, na
Europa, alguns dos autores infantis vinham questionando o teor das histórias infantis: pregavam que deveriam ser menos violentas e apresentar personagens mais criativos - já que as velhas figuras dos
contos de fadas tinham se tornado desinteressantes. Defendiam, ainda, que a função dessa
literatura era divertir e entreter - não moralizar; esse papel cabia à
família e à
escola.
A esta corrente adere o
americano Lyman Frank Baum. Em maio de
1900 lança O Maravilhoso Feiticeiro de Oz, que logo se transforma num dos maiores sucessos editoriais da História.
Sua obra marcou de tal forma que o autor viu-se obrigado a produzir sucessivas continuações, dando início a uma série que, continuada por outros autores, longe está de encontrar um desfecho. O Resgate da Cidade de Esmeralda A Bruxa Má do Oeste rouba o cérebro do Espantalho, o coração do Homem de Lata e a coragem do Leão! E ainda faz pior... Assume o controle da Cidade de Esmeralda, expulsa o mágico de Oz e transforma os habitantes em estátuas.
Enredo
Vivia a pequena Dorothy com os tios Henry e Emm numa pequena fazenda do Kansas. Seu único amigo era o cãozinho Totó que, durante uma tempestade, desaparece. Procurando-o desesperadamente, a menina entra no abrigo contra ciclones e esconde-se na pequena casa que, levada por um tufão pelos ares, termina por arremessá-la numa distante e desconhecida terra.
No meio da tempestade, Dorothy encontra seu animalzinho. Quando finalmente pousam, descobre que a casa caíra sobre uma perigosa bruxa, matando-a. Surgem alguns homenzinhos - os Munchkins - que eram dominados por aquela malvada senhora. Dorothy é aclamada como heroína, por ter matado a Bruxa do Leste.
A estrada dos tijolos amarelos
Ansiando por voltar para casa, a menina recebe dos habitantes do estranho lugar a orientação de que deveria procurar a ajuda do
Feiticeiro de Oz na
Cidade das Esmeraldas.
O caminho era o mais fácil - bastava seguir a longa estrada de tijolos amarelos, que cortava o país. Tem início então, a longa jornada através da terra de Oz. Usando um par de sapatinhos prateados
[1] que fora da Bruxa morta, Dorothy parte, com seu fiel Totó...
Encontrando novos companheiros
Dorothy encontra o
Leão Covarde. Ilustração da primeira edição do Feiticeiro de Oz.
Ao parar para descansar, Dorothy encontra num grande milharal um pobre espantalho, incapaz de assustar os corvos que atacam a plantação. Para sua surpresa, o boneco é capaz de falar, e revela que seu sonho era ter um bom cérebro para então produzir excelentes pensamentos.
Libertando-o da estaca que o prendia, a garotinha convida-o para ir com ela e Totó até a cidade das Esmeraldas. Lá, certamente, o poderoso mágico haveria de solucionar-lhe o problema. o
Espantalho passa a ser o novo amigo de Dorothy.
Seguindo juntos, encontram um homem todo feito de lata, segurando um machado e enferrujado próximo a uma cabana: era o
Homem de Lata, que um dia havia sido o lenhador
Tim Woodman e, após um feitiço que lhe fora lançado por uma bruxa, acabara perdendo todos os membros em acidentes em seu trabalho - tendo cada parte do corpo então substituída por outra feita em lata por um amigo.
Após lubrificarem as juntas enferrujadas do novo amigo, este segue junto aos três, pois tenciona obter do Mágico um coração de verdade para si.
Na estrada são atacados por um leão. A imensa fera intenta amedrontar os viajantes, mas Dorothy acaba descobrindo que era uma farsa: o medroso era ele. Junta-se, finalmente, o
Leão Covarde à comitiva, a fim de pedir que o Mágico lhe desse a coragem que falta.
A jornada sem fim
O grupo é bem recebido na cidade das Esmeraldas. Lá o Mágico os recebe, sem contudo mostrar-se diretamente: a cada um deles se apresenta numa forma distinta. Exige, para que os atenda em cada pedido, que primeiro livrem-se da perigosa Bruxa do Oeste.
Sem alternativa, vão em rumo da perigosa aventura. A bruxa defende-se, destruindo um a um os companheiros da menina, até fazê-la sua prisioneira. Mas Dorothy termina por derrotá-la e, com ajuda dos Quadlings, os habitantes do país dominado pela feiticeira, resgata também seus amigos. O Homem de Lata é feito imperador dos Quadlings.
Podem, então, retornar à cidade, para obter do poderoso que seus desejos fossem atendidos.
A fraude e o retorno para casa
Quando voltam, desmascaram o Mágico - na verdade um pobre velhinho que, tendo aportado na Terra de Oz num balão desgovernado, fingia ser um poderoso feiticeiro usando alguns truques aprendidos nos circos onde trabalhara.
Entretanto, atende a todos: ao Espantalho, dá um certificado da universidade - com o qual o feliz boneco de palha julga-se o ser mais inteligente do mundo; ao Homem de Lata, um coração; ao Leão, uma medalha de reconhecimento de coragem que este acredita ser a coragem almejada. Para Dorothy, decide construir outro balão onde, juntos, poderiam sair de Oz.
Mas, no dia da tão esperada partida, Totó escapa e o balão segue, levando apenas o falso mágico. A menina e seus amigos então decidem rumar até as terras da Bruxa Boa do Norte, Glinda. Após muitas peripécias, são recebidos pela boa amiga que revela à saudosa garotinha que a solução estava em seus pés todo o tempo: o sapato mágico.
Usando da magia dos sapatinhos dourados, Dorothy voa de volta ao Kansas. Termina a primeira de uma série de aventuras que parece não ter mais fim.
Relações com o Partido Populista estadounidense
Em
1964, Henry M. Littlefield foi a primeira pessoa a declarar que "O Maravilhoso Feiticeiro de Oz" não era apenas um
livro infantil, mas sim uma
alegoria ao
Movimento Populista ocorrido nos
Estados Unidos da América no fim do
século XIX. Littlefield publicou um artigo chamado "The Wizard of Oz: Parable on Populism." no diário
estado-unidense chamado "American Quaterly." Desde então, a teoria da relação do livro com o
Partido Populista (Populist Party) vem sendo ensinada nas escolas e faculdades estado-unidenses.
Além de Henry M. Littlefield, muitos outros especialistas em
política e história estado-unidenses dizem que o livro é muito mais do que um conto infantil, afirmando que Lyman Frank Baum era um seguidor do Partido Populista, e que esse autor usou o livro para defender o principal ideal desse partido, que era introduzir a prata como moeda de circulação no país, quebrando a hegemonia do ouro - ouro este que era escasso e estava quase que completamente sob o domínio dos donos das indústrias, que, por sua vez, eram na maioria membros do
Partido Republicano.
Existem inúmeras interpretações para o que Lyman Frank Baum demonstra com o livro, entre as interpretações mais comuns estão que Dorothy é do estado de
Kansas, pois na época era um
estado completamente
rural onde o Partido Populista era forte, devido a presença de muitos fazendeiros. No livro, Dorothy usa sapatos prateados, que siginificam a
prata pisando no
ouro, já que toda a estrada era feita de tijolos dourados.
O
Espantalho representa a figura comum de um fazendeiro estado-unidense, que é considerado "sem cérebro" pelas
elites industriais mas mesmo assim consegue ajudar a solucionar problemas que surgiram durante a jornada do livro.
O Homem-Lata representa o trabalhador das indústrias do
nordeste dos Estados Unidos da América, pessoas exploradas por ricos empresários, que já não tem mais sentimentos e não fazem nada na vida além de trabalhar para ganhar pouco.
O
exército de
macacos comandado pela
Bruxa do Oeste representa os
nativos e
índios da
América do Norte. Em vários trechos do livro podem ser encontradas falas dos macacos onde os mesmos dizem que antes da chegada do homem, eles viviam num reino de paz, sem ter que trabalhar nem servir a ninguém.
E finalmente, o Leão representa o maior nome do Partido Populista,
William Jennings Bryan. Um homem muito bom em falar em público, convencendo e persuadindo pessoas sobre a suas idéias, mas que na hora das eleições nunca provou ser realmente forte como parecia. Bryan concorreu a presidência cinco vezes consecutivas e não venceu nenhuma delas.
A interpretação mais comum do fato de que o autor Frank Baum, que era adepto do Partido Populista, ter criticado William J. Bryan em seu livro, é que na última vez em que se candidatou para a presidência dos Estados Unidos da América, Bryan deixou o Partido Populista para se candidatar pelo
Partido Democrata, o que contribuiu para o fim do Partido Populista estado-unidense.